O Poder do Rádio: Uma Reflexão Pessoal

O Poder do Rádio: Uma Reflexão Pessoal

 

Desde que me entendo por gente, o rádio foi uma presença constante em minha vida. Ele foi uma companhia fiel, uma voz que narrava o cotidiano e uma presença que enchia os lares com histórias, notícias e emoções.

Através dele, viajei sem sair de casa e acompanhei grandes acontecimentos que moldaram minha geração.

Para mim, o rádio vai além de ser apenas um meio de comunicação. Ele é uma fonte de emoção, um repositório de memórias e uma presença que desperta sentimentos, une pessoas e eterniza momentos que definem épocas.

 

Mas o impacto do rádio vai além da experiência individual. Ao longo da história, o rádio desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento das nações.

 

Ele foi, por um bom tempo, o único veículo de comunicação de massa, informando fatos, fazendo chamadas coletivas, oportunizando manifestações, unindo comunidades, fortalecendo o esporte, alimentando a cultura e dando voz às transformações sociais. Foi protagonista da história, costurando laços de pertencimento e memória coletiva.

Recordações e Emoções do Rádio

As transmissões esportivas incendiavam a imaginação da torcida, com narradores como Aldo Pires de Godoi e Camargo Filho, que emprestavam sua voz para fazer vibrar no Est.  Vidal Ramos Júnior e o Vermelhão de Copacabana.

As vitórias e derrotas dos nossos clubes não eram sentidas apenas no campo, mas também nos rádios espalhados pela cidade, onde cada lance era narrado com emoção contagiante.

Mas o rádio não só transmitia o esporte. Eu me lembro, como se fosse hoje,  dos programas musicais, dos noticiários locais, nacionais e internacionais, e das radionovelas que marcaram gerações, como: “Em Busca da Felicidade”, “O Direito de Nascer”, “Jerônimo, o Herói do Sertão”, “Sinhá Moça” e “Senhora”.

 

Tais novelas reuniam famílias inteiras em torno do aparelho. Cada ator ou locutor, com seu estilo único, tornava-se quase um membro da família: a voz que trazia segurança, entretenimento, informação e companhia.

 

Esses homens e mulheres do rádio foram verdadeiros cronistas do nosso tempo. Suas vozes ecoaram pelas ondas hertzianas, eternizando momentos que hoje fazem parte não só da minha memória, mas também da própria história de Lages. 

Viagens Sonoras da Infância

Na minha infância, com o velho “Rádio Semp” como companheiro fiel, viajei sem sair de casa. Acompanhei cada detalhe dos jogos, torcendo apaixonadamente pelo Guarani e pelo Colorado Lageano, quando não havia o concorrido clássico da cidade, o famoso “Gua-Nal”.

A narrativa esportiva ganhava vida em minha imaginação, e era como estar na arquibancada dos nossos estádios, sentindo a emoção do jogo ao vivo.

O rádio era mais do que apenas um meio de comunicação – era uma ponte entre corações e histórias que talvez nunca se encontrariam de outra forma. Ele trazia cultura, emoção e companhia, tornando cada momento inesquecível.

Cresci em uma época em que o futebol não era apenas espetáculo; era também encontro, aprendizado e emoção. Cada partida, fosse no campo ou narrada pelas ondas sonoras, tornava-se parte viva da minha história, uma memória que permanece até hoje.

O Fascínio das Ondas Sonoras

Durante a chamada Era de Ouro do Rádio no Brasil (1930–1960), artistas de novelas, compositores, locutores e apresentadores se tornaram ícones nacionais.

 

O rádio não foi apenas um invento tecnológico, mas uma revolução cultural que transformou a maneira de viver, informar-se e sentir. Era quase mágico imaginar que a voz de um locutor, transmitida por ondas invisíveis, pudesse alcançar cidades, estados e até países inteiros.

Primeiros Contatos e Inspirações Pessoais

Fui por um bom tempo fascinado pelas locuções radiofônicas. Admirava as entonações de voz, capazes de prender a atenção e transmitir sentimentos diversos.

 

Mais tarde, compreendi que essas variações — neutra, ascendente, descendente e ondulada — são técnicas fundamentais para conquistar o ouvinte.

 

Na juventude, sonhei em trabalhar no rádio esportivo. Mas, por estar envolvido com o comércio do meu pai (Bar Guairacá), o desejo não se concretizou.

 

Ainda assim, sempre que podia, frequentava a Rádio Diário da Manhã de Lages e a Rádio Princesa, observando atentamente a sonoplastia, a locução e a produção das radionovelas.

Foi nessas duas emissoras que conheci nomes como Tomazoni Filho, Nelson Pereira,  Hélio Aquino, Vânio Vargas, Aldo Pires de Godoi, Inah Oliveira e Mauro Mello, que se tornaram grandes referências para mim.

Um Legado de 67 Anos

Há 67 anos, durante a Copa do Mundo de 1958 na Suécia, eu ouvi pela primeira vez a Rádio Guaiba de Porto Alegre, sob a locução do professor Mendes Ribeiro, junto com meu pai, que mais tarde me contou sobre essa experiência. Nessa época, descobri o poder da palavra e da emoção que ecoava pelas ondas sonoras.

Essa e muitas outras estações de rádio brasileiras foram verdadeiros palcos de histórias, emoções e memórias coletivas, deixando uma marca indelével na vida de cada ouvinte.

Cada locutor, sonoplasta, cantor, músico, ator e atriz de radionovela contribuiu para transformar ondas invisíveis em laços profundos. Esses mestres da palavra e da emoção ergueram um legado que ecoa até hoje, não apenas em datas históricas, mas nas lembranças vivas de cada um que teve a sorte de ouvir suas vozes.

Ao ligar o aparelho, encontrava-se mais do que notícias; encontrava-se companhia, pertencimento e a magia de uma voz amiga que trazia conforto e alegria.

 

A mente é como um rádio: só recebe a frequência com a qual está sintonizado. Que estas palavras possam inspirar todos os que amam o rádio e acreditam no seu poder de transformação.

 

Que possamos continuar a nos conectar com as histórias, as emoções e as memórias que o rádio nos proporciona, e que essas ondas sonoras continuem a ecoar em nossos corações para sempre.

“Fazer rádio é um eterno vício para quem nasceu verdadeiramente radialista.”Mettran Senna

Walmor1953@gmail.com

 

 

 

 

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