Vocações Econômicas de Lages: Reflexões, Lições e Sugestões

Vocações Econômicas de Lages: Reflexões, Lições e Sugestões

 

O desenvolvimento econômico de Lages, assim como de outras cidades médias do Brasil, não pode mais depender exclusivamente da atração de grandes indústrias. Os altos custos logísticos, somados a uma carga tributária complexa, limitam a competitividade nacional e afetam diretamente municípios do interior. Nesse cenário, repensar estratégias, reconhecer vocações regionais e integrar conhecimento acadêmico, setor produtivo e políticas públicas tornam-se fatores decisivos.

 

Este texto reflete minha experiência no serviço público, observações sobre a realidade de Lages e aprendizados com casos de sucesso e insucesso, como a instalação da Cervejaria Brahma nos anos 1990.

  • Custos logísticos: representam cerca de 12% do PIB nacional, contra 8% em países desenvolvidos (Confederação Nacional da Indústria- CNI).
  • Dependência rodoviária: maisde 60% do transporte de cargas no país é rodoviário (Confederação Nacional do Transporte  – CNT), o que eleva custos, aumenta a vulnerabilidade ao preço dos combustíveis e impacta prazos de entrega.
  • Carga tributária: no Brasil, impostos chegam a 33% do Produto Interno Bruto – PIB, enquanto países como o México apresentam índices próximos a 17%.

 

Esses fatores demonstram que o problema brasileiro não é a qualidade de seus produtos, mas o “custo Brasil”, que compromete a competitividade no mercado interno e externo.

O Caso da Cervejaria Brahma em Lages

Nos anos 1990, a instalação da Brahma foi viabilizada por incentivos fiscais  e programas estaduais como o PRODEC. Apesar do êxito inicial, o caso revela uma lição importante: sem logística eficiente e incentivos duradouros, a permanência de grandes indústrias é incerta.

 

 

Lages e o Desafio IndustriaL

Vantagens:

  • Localização estratégica: entroncamento das BR-116 que interliga as regiões Sul e Sudeste;  BR-282 que proporciona acesso às áreas Oeste e litorâneas; e BR-470, a qual, embora não atravesse diretamente o município, mantém ligação com a BR-282 na região, desempenhando papel relevante no transporte da produção agroindustrial para o litoral.
  • Ferrovia Tronco Sul e aeroporto regional.
  • Potenciais diferenciais: incentivos fiscais, mão de obra universitária e disponibilidade de terras.

 

Obstáculos:

  • Distância dos grandes centros consumidores (MG, SP, RJ, PR, RS) e dependência quase exclusiva do modal rodoviário.

Essa equação logística encarece produtos e torna o município menos atrativo para indústrias de escala nacional.

Por que Lages é Desfavorável para Grandes Indústrias?

  • Distância dos mercados centrais eleva prazos e custos de entrega.
  • Falta de integração modal: enquanto EUA e Europa equilibram rodovias, ferrovias e hidrovias, o Brasil permanece dependente do transporte rodoviário.
  • Produtos perecíveis sofrem ainda mais com o tempo de reposição e a fragilidade da logística.

 

O Turismo Rural como Motor de Crescimento

  • Diversificação econômica: agricultores e pecuaristas passaram a oferecer hospedagem, gastronomia típica e experiências campeiras.
  • Valorização cultural: queijos, embutidos e artesanato ganharam reconhecimento e valor agregado.
  • Infraestrutura: investimentos públicos e privados melhoraram estradas e serviços.
  • Reconhecimento: em 2025, um documentário celebrou os 40 anos do turismo rural no Brasil, destacando Lages como pioneira.

 

Desafio futuro: conciliar crescimento com sustentabilidade ambiental, qualificação profissional e preservação da identidade cultural.

 

 

Vocações Econômicas de Lages

 

 

 

Apesar das dificuldades em atrair grandes indústrias, a cidade possui setores estratégicos que podem alavancar o desenvolvimento:

Madeira e Móveis

    • Tradição florestal e mão de obra qualificada.
    • Potencial em design, sustentabilidade e certificação.

 

Agroindústria

    • Pecuária de corte e leiteira, produção de grãos e derivados.
    • Expansão de queijarias artesanais, frigoríficos e cooperativas.

 

Energias Renováveis

    • Potencial em energiaeólica, solar e biomassa.
    • Oportunidade para se tornar polo de pesquisa e inovação sustentável.

 

Tecnologia Aplicada ao Agronegócio

    • UDESC, UNIPLAC, FACVEST, IFSC e outras instituições como base de inovação.
    • Aplicações em automação, inteligência artificial e monitoramento do setor agr;icola e pecuário.

 

Turismo Rural e de Experiência

    • Hotéis-fazenda, enoturismo, rotas gastronômicas e turismo de aventura.

 

Potencial Logístico

    • BR-116, BR-282, BR 470 , SC 114, SC 390, SC 438 e  SC 370 como corredores estratégicos.
    • Ferrovia Tronco Sul como diferencial pouco explorado.

 

 

 

A cidade de Lages, localizada no Planalto Serrano de Santa Catarina, é tradicionalmente reconhecida como um polo agropecuário e florestal. A região apresenta características únicas que a tornam altamente favoráveis ao desenvolvimento da silvicultura, atividade que engloba o cultivo, manejo e utilização sustentável de florestas plantadas.

 

 

Clima Favorável

  • O clima serrano, com verões amenos, invernos frios e chuvas bem distribuídas, é ideal para espécies como pinus e eucalipto.
  • Essas condições favorecem madeira de boa qualidade, densa e resistente.

 

Enorme Extensão de Terra

A região conta com amplas áreas de terra, muitas já utilizadas na pecuária extensiva, que também podem ser destinadas a florestas plantadas.

Isso permite formar grandes áreas de produção, próximas de indústrias madeireiras, de celulose e móveis.

 

Vantagens

  • Diversificação econômica: reduz a dependência da pecuária e da agricultura tradicional.
  • Empregos: gera trabalho no plantio, manejo, colheita e beneficiamento.
  • Sustentabilidade: ajuda a conservar o solo, proteger a água e diminuir a pressão sobre florestas nativas.
  • Logística: a localização estratégica, com BR-116 e BR-282, facilita o escoamento da produção para mercados e portos.

 

As Instituições de ensino superior  (UDESC, UNIPLAC, FACVEST,IFSC, ORION PARQUE) são usinas de conhecimento.

 

O desafio é integrar academia, empresas e poder público em projetos de inovação e transferência tecnológica, fortalecendo cadeias produtivas locais.

 

Estimativas do Impacto dos Modais de Transporte no Preço de um Produto

O custo do transporte influencia diretamente o preço final de um produto. Cada modal tem um peso diferente nessa conta:

  • Rodoviário: 5% a 15% do preço final
    Ex.: Produto de R$ 100 → custo de R$ 5 a R$ 15
    Fatores: distância, tipo de produto, pedágios, caminhões especiais e condições de tráfego
  • Ferroviário: 3% a 10% do preço final
    Ex.: Produto de R$ 100 → custo de R$ 3 a R$ 10
    Mais econômico para cargas pesadas e volumosas, depende da infraestrutura
  • Aéreo: 10% a 30% do preço final
    Ex.: Produto de R$ 100 → custo de R$ 10 a R$ 30
    Usado para produtos de alto valor, perecíveis ou urgentes
  • Hidroviário: 2% a 8% do preço final
    Ex.: Produto de R$ 100 → custo de R$ 2 a R$ 8
    Vantajoso para grandes volumes, depende de portos e vias navegáveis

Essas estimativas mostram que a escolha do modal é decisiva para a competitividade de produtos e empresas. ILOS – https://cursos.ilos.com.br

 

 

Minha experiência mostra que incentivos fiscais atraem, mas não sustentam empresas. Para consolidar o desenvolvimento de Lages, é preciso:

  • Melhorar rodovias, ferrovias e transporte aéreo.
  • Reduzir custos de escoamento.
  • Aproximar universidades, empresas e governo.
  • Incentivar pequenas e médias indústrias, mais sustentáveis a longo prazo.

 

Conclusão:

O futuro de Lages não depende apenas de atrair grandes indústrias, mas de inteligência estratégica para valorizar suas vocações regionais: madeira e móveis, agroindústria, energias renováveis, tecnologia, turismo rural, logística e conhecimento universitário.
Mais do que discursos políticos, precisamos de planejamento público eficiente e coordenação intersetorial. Só assim transformaremos potencial em realidade, garantindo um desenvolvimento competitivo, sustentável e inovador para as próximas gerações.

Walmor1953@gmail.com

Fontes

  • BERCOVICI, Gilberto. Planejamento e políticas públicas no Brasil. São Paulo: Malheiros, 2010.
  • HIRSCHMAN, Albert O. Estratégia do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.
  • LOPES, Antônio Carlos. Políticas de Incentivos Fiscais no Brasil. Revista de Economia e Desenvolvimento, v. 29, n. 2, 2017.
  • OLIVEIRA, Francisco de. Planejamento e Desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
  • SANTA CATARINA. Lei Municipal n.º 1931/1993. Autoriza a doação de terras para instalação da Cervejaria Brahma.

 

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