Agricultura: Do Arado a Inteligência Artificial

Agricultura: Do Arado a Inteligência Artificial

Neste artigo, compartilho a trajetória da agricultura — suas conquistas, desafios e transformações — e como ela moldou não apenas a produção de alimentos, mas também a nossa sociedade. Como disse o brilhante e ex-ministro da agricultura, Alysson Paulinelli: A terra é nossa parceira; quem cuida dela, cuida da vida.”

Duas forças têm se destacado de forma bastante marcante neste século: a rápida evolução tecnológica, que impacta não só os setores ligados às exportações, mas toda a cadeia produtiva; e o crescimento na demanda internacional.

Ao refletir sobre a história da humanidade, percebo que a agricultura foi muito mais do que uma atividade econômica: foi o alicerce das civilizações. Desde os primeiros passos do homem na domesticação das plantas até a era da inteligência artificial no campo, cada avanço revela nossa capacidade de aprender, adaptar e transformar o mundo.

O ex-ministro da agricultura  Cirnei Lima observou com sabedoria: “A agricultura é o elo entre o homem e o tempo; ela nos ensina a planejar, esperar e colher com sabedoria.”

BOA VISTA: TERRA FRIA, CORAÇÕES QUENTES

As histórias do meu pai sobre a vida dos meus avós que viveram em Boa Vista, distrito de Taquaras — hoje pertencente ao Municipio de Rancho Queimado — sempre me tocavam bastante. Entre os anos 1930 e 1960, principalmente na referida localidade, a agricultura familiar era a principal fonte de sustento.

A luta sobrevivência se travava no solo pedregoso das encostas montanhas, onde o frio intenso e os ventos fortes castigavam tanto o corpo quanto a alma de seus residentes.

A terra era pobre, de difícil cultivo, e a produtividade, quase sempre baixa. Ainda assim, cada família persistia, movida pela necessidade. Com o arado rudimentar, o boi e a enxada, plantavam milho, feijão e mandioca, confiando que o pouco colhido bastaria até a próxima estação.

Entre geadas e estiagens, meus avós e tantos outros colonos  da saudosa e eterna Boa Vista, enfrentaram o impossível. Transformaram o trabalho duro em lição de vida, mostrando que a verdadeira colheita está na coragem e na esperança. Essa herança de resistência — feita de mãos calejadas e corações firmes — é o legado que carrego comigo até hoje.

DA FORÇA HUMANA À TECNOLOGIA

Nos primórdios, a agricultura dependia totalmente da força humana e animal. Ferramentas simples — enxadas, foices e arados manuais — limitavam a produção ao consumo familiar. No Brasil colonial, predominava a monocultura da cana-de-açúcar, baseada no trabalho escravizado e voltada à exportação.

 

Hoje, o cenário é outro: tratores, colheitadeiras com GPS, drones e softwares de gestão agrícola revolucionaram a produção. A biotecnologia trouxe sementes geneticamente melhoradas, mais produtivas e resistentes a pragas. A tecnologia não só ampliou a produtividade, mas também abriu espaço para práticas sustentáveis.

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues resume bem essa transformação:“O futuro do campo depende do equilíbrio entre tecnologia, conhecimento e respeito à terra.”

EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL

Raízes indígenas e período colonial

Antes da chegada dos portugueses, os povos indígenas já cultivavam mandioca, milho, amendoim e abóbora em harmonia com a natureza.Com a colonização, surgiu a cana-de-açúcar como principal produto de exportação, sustentada pela monocultura e pelo trabalho escravo, com pouca atenção ao consumo interno.

 

 

                                                          SÉCULO XIX  – A ERA DO CAFÉ

 

 

Com o declínio da mineração, o café se tornou o motor da economia, impulsionando cidades e infraestrutura. Gerou riqueza, mas também concentrou terras e expôs o país à instabilidade dos preços internacionais.

 

 

SÉCULO XX  – MODERNIZAÇÃO E REVOLUÇÃO VERDE

 

Até meados do século XX, predominava o trabalho manual. A partir de 1970, com a criação da Embrapa e a influência da Revolução Verde, o Brasil iniciou uma profunda transformação.
Adubos, sementes melhoradas e novas técnicas permitiram o aproveitamento de solos antes pobres, como os do Cerrado, que se tornaram férteis. A soja emergiu como símbolo do novo ciclo produtivo.

 

A antiga estrutura do Ministério da Agricultura passou a coordenar políticas de pesquisa, crédito rural e extensão agrícola — alicerces de um setor moderno e competitivo.

SÉCULO XXI – AGRONEGÓCIO

Hoje, o agronegócio é o grande motor da economia brasileira. Responde por expressiva parcela do PIB e das exportações, sendo o país líder mundial em soja, carne bovina e suco de laranja, além de destaque em algodão e milho.

LIÇÕES DE NORMAN BORLAUG E A REVOLUÇÃO VERDE

O agrônomo norte-americano Norman Borlaug, vencedor do Prêmio Nobel da Paz (1970), foi um dos maiores defensores do uso da ciência na produção agrícola. Acreditava que a agricultura poderia combater a fome e promover a paz.
Ele defendia a utilização de organismos geneticamente modificados e técnicas modernas para aumentar a produtividade, reduzir o uso de herbicidas e preservar o meio ambiente.

 

Durante sua visita ao Brasil, em 2003, Borlaug destacou o sucesso do plantio direto na palha, especialmente no Sul e no Centro-Oeste. E afirmou:

“O que está acontecendo no Cerrado é um dos mais espetaculares eventos de desenvolvimento agrícola da história mundial.”

O BRASIL RURAL E O BOOM DAS EXPORTAÇÕES

 

Nas décadas de 1950 e 1960, a agricultura brasileira era rudimentar: menos de 2% das propriedades eram mecanizadas. A baixa produção gerava dependência de importações.
Com políticas de modernização, pesquisa e crédito rural, o cenário mudou. A produção de gado dobrou, novos cultivos prosperaram e a mecanização avançou rapidamente.

 

A partir dos anos 1990, o agronegócio tornou-se a principal força das exportações brasileiras, impulsionado pela pesquisa científica, pela capacitação técnica e pela expansão das fronteiras agrícolas, especialmente no Cerrado — antes visto como solo árido e hoje um dos maiores celeiros do mundo.

BRASIL NO AGRONEGÓCIO EM  2024

O Brasil consolidou-se como potência agrícola mundial:

Soja – Maior produtor e exportador global, com safra recorde de 169,49 milhões de toneladas (2024/2025), gerando mais de US$ 40 bilhões em receitas.                                                                        Algodão – Líder em exportações, superando os Estados Unidos.      Açúcar – Um dos principais produtos de exportação, com mais de US$ 15 bilhões em receitas anuais.                                   

Café – Produção cresceu 58,1% em relação a 2023, fortalecendo o setor.

Mesmo diante de desafios como variações de preço e de safra, o setor mantém-se resiliente, apoiado em inovação, sustentabilidade e eficiência.

ONDE TUDO COMEÇOU

 

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) foi criada em 1973, após a sanção da Lei nº 5.851, de 7 de dezembro de 1972, pelo presidente Emílio Garrastazu Médici.
A iniciativa resultou de estudos liderados por José Irineu Cabral, primeiro presidente da instituição, com o apoio de Eliseu Alves e do grupo coordenado pelo ministro Luiz Fernando Cirne Lima.
A Embrapa transformou o Brasil em referência mundial em pesquisa agrícola tropical, promovendo inovação, produtividade e sustentabilidade.

 

 

 

A migração de gaúchos para o Centro-Oeste brasileiro foi um dos fatores decisivos na expansão do agronegócio. Em busca de terras férteis e acessíveis, esses agricultores levaram conhecimento, cultura e determinação, impulsionando a agricultura e a pecuária nas novas fronteiras do país.

 

 

 

 

CONCLUSÃO

Para que o Brasil continue crescendo, é urgente investir em infraestrutura logística — especialmente nos modais ferroviário, pluvial e rodoviário — e ampliar a malha viária rural. Também é essencial aumentar a capacidade de armazenamento em silos, permitindo que o produtor venda em melhores condições, reduza perdas e maximize lucros. Ao revisitar essa trajetória, percebo que a agricultura é mais do que plantar sementes: é plantar o futuro da humanidade.

 

Aprendi que o verdadeiro progresso nasce do equilíbrio entre tecnologia, trabalho e respeito à terra — princípios que devem guiar nossas escolhas e políticas agrícolas.

Como disse o brilhante ex-Ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli: “Quem planta conhecimento, colhe prosperidade.”

Hoje, o campo é um espaço de inovação, produtividade e sustentabilidade. Ele conecta o passado e o futuro, a terra e o conhecimento, a humanidade e a ciência.
A agricultura é, sem dúvida, a mais antiga e, ao mesmo tempo, a mais moderna das criações humanas.

 Walmor1953@gmail.com

REFERÊNCIAS:

  • Borlaug, N. (1970). The Green Revolution. Nobel Prize Lecture.
  • Embrapa. (2024). Relatórios de Produção Agrícola.
  • Schuh, E., & Alves, E. (1971). Estudos sobre Agricultura Brasileira. Viçosa: Escola Superior de Agricultura.
  • Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). (2024). Dados do Agronegócio Brasileiro.
  • Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). (2024). Relatórios de Safra.
  • Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). (2024). Indicadores do Setor Agropecuário.
  • Instituto Brasileiro de Economia (FGV Agro). (2024). Perspectivas do Agronegócio.

 

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