
16 jan A magia do futebol pelas ondas do rádio
O futebol, considerado o esporte mais praticado no mundo, teve suas raízes há 5 mil anos na China, entretanto, as normas, os formatos das bolas e os trajes começaram a ser desenvolvidos na Inglaterra a partir do século XIX.
No Brasil, a história do futebol iniciou-se com Charles Miller em 1894, que trouxe consigo duas bolas de futebol, um livro com as regras do jogo, chuteiras, uniformes e uma bomba de ar, por isso é hoje conhecido como o pai do futebol brasileiro.
Com o tempo, esse esporte se transformou um fenômeno social e parte da cultura brasileira. Entre 1894 e 1990, o futebol e as transmissões pelo rádio se consolidaram, tornando-se essenciais para a vida de muitos brasileiros.
Outrora, o rádio era um privilégio das classes altas e se destacou como um meio de comunicação importante. Até 1940, as narrações eram improvisadas, mas em 1945, a Rádio Panamericana reformulou as transmissões esportivas, acrescentando a já existente função de narrador, a de comentarista e repórter.
O futebol é uma modalidade que desperta paixões e hoje congrega grandes multidões. No interior do Brasil, a popularização e a prática desse esporte cresceram de maneira extraordinária, impulsionadas que foi em um passado não muito distante, pelas ondas do rádio, cujas transmissões esportivas conquistaram tanto crianças quanto adultos através de uma comunicação acessível. A voz do locutor e do comentarista de rádio tinha e ainda tem a capacidade de evocar emoções que vão além das palavras.
Em 1931, ocorreu a primeira narração de um jogo de futebol no rádio brasileiro. Antes disso, a Seleção Brasileira já havia conquistado a Copa América em 1919 e 1922, antes da primeira Copa do Mundo, que aconteceu em 1930 no Uruguai.
Recordo que ouvi pela primeira vez, em 1958, com emoção e muita expectativa, a transmissão de um jogo de futebol com meu pai, pelas ondas sonoras da rádio Guaíba. Anos depois, para minha surpresa, comprovei que o narrador daquela partida era o jornalista Mendes Ribeiro.
Os narradores esportivos, como Mendes Ribeiro, utilizam uma abordagem dinâmica e emocional para prender a atenção dos ouvintes e tornar o espetáculo mais vibrante, o que pode contrastar com a realidade dos eventos quando comparado às transmissões televisivas. A falta de imagens no rádio requer que o narrador use criatividade e agilidade para estimular a imaginação do público.
Os aficionados por futebol que, assim como eu, tiveram o privilégio no passado de acompanhar as transmissões esportivas das principais emissoras do país, nunca esquecerão a excelência dos comentários de Lauro Quadros, Ruy Porto, Rui Carlos Ostermann, João Carlos Belmonte, Lasier Martins,Luiz Carlos Prates e João Saldanha. Além disso, as narrações esportivas de Fiori Gigliotti, Valdir Amaral, Jorge Curi, Osmar Santos, José Geraldo de Almeida, Mendes Ribeiro, Pedro Carneiro Pereira, Armindo Antonio Ranzolim, Haroldo de Souza, Celso Garcia, Doalcei Camargo e tantos outros.
Os bordões criados pelos narradores esportivos no Brasil marcaram a memória do rádio e do futebol, sendo fundamentais ao longo das décadas. Frases icônicas como “Deus não joga, mas fiscaliza” (Mendes Ribeiro), “As bandeiras estão tribulando, estão tribulando” (Haroldo de Souza), e “Atenção garoto do placar do Maracanã” (Celso Garcia).
Fiori Gigliotti é destacado como o narrador mais icônico, sendo considerado o Pelé das transmissões esportivas, criou bordões como: “É fogo é fogo, é golll”, “Abrem-se as cortinas e começa mais um espetáculo”, “Fecham-se as cortinas e se encerra mais um espetáculo”.
Valdir Amaral, outro expoente do rádio, assim colocava seus bordões: “O relógio marca!!!!”, “Choveu na horta do Vascão, Roberto! Dez é a camisa dele! Indivíduo competente o Roberto! tem peixe na rede do São Cristóvão!”, “Dorval, que passa para Pelé que atira para o arrrrrco….seguuuuura”.
Osmar Santos, com frases marcantes que trouxeram emoção e inovação às transmissões, como: “Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”, “É lá que a menina mora”, “É fogo no boné do guarda”, “Pisou no tomate e bambeou mas não caiu,”“iiiiiiii que golllllllllllllllll”.
Diversos outros memoriáveis narradores do futebol que não mencionei também desempenharam um papel basilar no fortalecimento da cultura esportiva brasileira. Em última análise, é gratificante relembrar as gravações disponíveis nas redes sociais dessas figuras emblemáticas, que continuam presentes em minha memória.
Walmor Tadeu Schweitzer
Esportista
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