Quem, Como e Por Quê: As Forças que Movem o Mundo e Fazem a Ciência Evoluir

Quem, Como e Por Quê: As Forças que Movem o Mundo e Fazem a Ciência Evoluir

“A chave de todas as ciências é inegavelmente o ponto de interrogação.” (Balzac)

Foram as perguntas – e não as respostas – que impulsionaram o avanço do conhecimento. Cada descoberta, cada invenção, cada revolução científica ou filosófica nasceu de uma inquietação, de uma dúvida, de um olhar que ousou perguntar.  A inquietude é a mola propulsora do pensamento crítico. O verdadeiro sábio aprende a conviver com a dúvida e vê na interrogação o início do saber.

As Perguntas que Fizeram História

Sócrates, o filósofo ateniense do século V a.C., foi um dos primeiros a demonstrar que a sabedoria nasce do reconhecimento da própria ignorância. Seu método dialético, baseado em perguntas sucessivas, buscava levar o interlocutor a uma descoberta pessoal da verdade. Ele acreditava que ensinar não era transferir conhecimento, mas provocar o pensamento. “Só sei que nada sei”, dizia ele, não como expressão de humildade, mas como método filosófico.

 

Galileu Galilei, o pai da ciência moderna, mudou o rumo da investigação científica ao romper com o modelo aristotélico de aceitação passiva do saber antigo. Substituiu a autoridade dos livros pela experiência e pela dúvida sistemática. Atribui-se a ele a frase: “Não se pode ensinar nada a um homem; pode-se apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro de si mesmo.” Seu método, fundamentado na observação, experimentação e formulação de hipóteses, inaugurou uma nova era para a ciência.

René Descartes, por sua vez, estabeleceu os fundamentos do pensamento racional moderno. Em sua obra “O Discurso do Método”, propôs quatro princípios para alcançar a verdade: evidência, análise, síntese e controle. Descartes defendia que nenhuma ideia deveria ser aceita sem clara e evidente razão, e que a dúvida metódica era o ponto de partida para qualquer construção do saber. Sua célebre frase “Penso, logo existo” é o ápice da valorização da dúvida como base do conhecimento.

 

Isaac Newton questionou por que a maçã caiu, levando à física.Diz a lenda que Newton estava debaixo de uma macieira quando uma maçã caiu na sua cabeça. Isso o levou a pensar sobre a gravidade e criar a lei da gravitação universal. A história simboliza a inspiração científica e a curiosidade. Pode ser apenas uma narrativa para ilustrar a genialidade de Newton. Resumindo, ela mostra que observar e questionar  o mundo natural pode levar a descobertas importantes.

 

 

A ideia de que Steve Jobs perguntou por que computadores precisam de ventiladores e criou a Apple assim é uma simplificação. Jobs foi um líder visionário, mas seu foco em design e experiência do usuário teve maior impacto na tecnologia, incluindo melhorias na refrigeração eficiente e silenciosa.

 

 

Einstein criou a relatividade ao perguntar como o universo pareceria na velocidade da luz.Quando tinha 16 anos, ele perguntou ainda: “Como o mundo seria se eu viajasse à velocidade da luz?” Essa dúvida, junto com suas reflexões sobre a velocidade da luz e o éter, o levou a criar a teoria da relatividade especial em 1905.

 

 

Séculos mais tarde, Will Durant, um filósofo e historiador, dizia em seu livro “Filosofia da Vida” que “educação é o simples progresso da dúvida”. Para ele, a dúvida não era apenas um começo, mas sim o que impulsionava todo o processo de aprendizagem, sendo o motor que alimenta o crescimento intelectual e moral de cada pessoa e da humanidade como um todo.

 

A Escola como Oficina de Perguntas

No ambiente escolar, a aprendizagem verdadeira não ocorre apenas quando o aluno ouve, mas principalmente quando pergunta. Educar é estimular a curiosidade, provocar o pensamento, criar espaço para a construção coletiva e individual do saber. O bom educador não é aquele que oferece todas as respostas, mas aquele que ensina a fazer boas perguntas.

 

A técnica do questionamento transforma a sala de aula em uma oficina de descobertas. As dúvidas surgem naturalmente e levam o estudante a buscar, por si próprio, as implicações de suas ideias e as relações com as ideias dos outros. Esse processo não apenas reforça o conteúdo, mas desenvolve habilidades como argumentação, expressão oral, escuta ativa e senso crítico.

Infelizmente, muitos ainda confundem educar com informar. Esquecem que o estudante que chega a uma conclusão por meio de seu próprio raciocínio desenvolve um conhecimento mais sólido, duradouro e significativo. Como já dizia Confúcio: “O que eu ouço, eu esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu faço, eu compreendo.” Neste caso, o “fazer” começa ao perguntar.

A Evolução do Conhecimento ao Longo dos Séculos

A história do conhecimento humano é uma busca constante por respostas. Perguntas como “o que é o universo?”, “como surgiu a vida?” e “qual o sentido da existência?” motivaram a curiosidade e a inovação. Essas questões, quando respondidas, ampliaram o entendimento humano e influenciaram a organização social, a cultura e o avanço tecnológico.A trajetória do conhecimento humano é marcada por perguntas que transformaram o mundo:

  • Na Antiguidade, filósofos como Pitágoras e Aristóteles questionaram a natureza do universo, da ética e da política.
  • Na Idade Média, mesmo sob forte influência religiosa, pensadores como Santo Tomás de Aquino tentaram conciliar fé e razão com base em indagações filosóficas.
  • No Renascimento, a dúvida renasceu com força, com Leonardo da Vinci investigando o corpo humano, o voo das aves e os segredos da engenharia.
  • Na Revolução Científica, figuras como Kepler, Newton e Darwin ousaram questionar a visão de mundo vigente, revelando novas leis da física e da biologia.
  • Nos tempos modernos, pensadores como Einstein e Stephen Hawking mostraram que o universo continua desafiando nossas perguntas, e que o conhecimento científico jamais se encerra.

 

A sabedoria não mora nas certezas, mas nas perguntas bem formuladas. É por meio da dúvida que o homem avança, rompe paradigmas, reconfigura saberes. A evolução do pensamento humano é, em essência, a história das perguntas que tivemos coragem de fazer. E, como nos ensinou Galileu, mais importante do que acreditar, é duvidar com inteligência.

Se quisermos uma educação transformadora e um futuro melhor e promissor, devemos ensinar nossas crianças e jovens não apenas a buscar respostas através de pesquisas bibliográficas, mas a questionar o mundo ao seu redor com liberdade, responsabilidade e espírito crítico. Porque, no fim das contas, é pela pergunta que começamos a compreender quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir.

 

Fontes:

  • DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
  • DURANT, Will. Filosofia da Vida. São Paulo: Globo, 2006.
  • GALILEI, Galileo. Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
  • PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
  • CONFÚCIO. Os Analectos. São Paulo: Editora Pensamento, 2019.

 

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